Reforma Tributária e fluxo de caixa. Existe alguma relação entre estes dois termos?
A resposta é sim, existe. Isso porque a mudança nos tipos de impostos e sistema de arrecadação de tributos no Brasil, já em andamento, propõe uma série de medidas que irão simplificar e otimizar o sistema tributário brasileiro.
E, para isso, várias frentes estão sendo atacadas. Tudo para promover maior justiça tributária, eficiência, competitividade econômica e modernização do sistema fiscal.
No fim das contas, muitas dessas novidades devem sim impactar de alguma forma, direta ou indireta, o fluxo de caixa das empresas.
Por isso, entenda, neste artigo, tudo sobre reforma tributária e fluxo de caixa. E descubra como preparar sua empresa durante este período de transição do sistema antigo para o novo.
Boa leitura!
Reforma Tributária e fluxo de caixa: qual a relação?
Objetivamente, essa relação existe porque a forma como os tributos são cobrados influencia a disponibilidade de recursos financeiros no dia a dia dos negócios.
E se a Reforma Tributária vai promover mudanças na maneira de cobrar os impostos, o fluxo de caixa das empresas poderá sofrer importantes impactos neste processo. Sobretudo, as pequenas e médias.
Mais adiante, vai ficar mais claro quais são estes impactos. Acompanhe!
Mas quais são os principais pontos da Reforma Tributária?
A Reforma Tributária ainda não está em vigor e as mudanças ocorrerão de forma gradual.
Por enquanto, o que aconteceu é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou em janeiro de 2025 o primeiro projeto que regulamenta a Reforma Tributária (outros projetos de regulamentação ainda precisam ser aprovados), detalhando as normas para o funcionamento do sistema e também novos tributos.
Esse processo será iniciado em 2026 e deverá ser concluído em 2033, permitindo uma transição lenta entre os sistemas antigo e novo, sem sobrecarregar os contribuintes.
Sabendo disso, confira os três principais objetivos da Reforma Tributária brasileira:
1. Simplificar impostos
O principal objetivo da Reforma Tributária é proporcionar a simplificação dos tributos que incidem na compra e venda de serviços e mercadorias.
Assim, surge o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), composto pela IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), em substituição aos cinco impostos sobre o consumo aplicados atualmente (ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins).
Um terceiro tributo também deve surgir, o chamado Imposto Seletivo (IS) ou “Imposto do Pecado”, como também é conhecido. Trata-se de uma sobretaxa aplicada para desestimular o consumo de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente (cigarro, bebidas alcoólicas etc.).
2. Simplificar a cobrança dos impostos
Além da substituição dos impostos, a Reforma Tributária introduz um novo mecanismo para o pagamento de impostos, o split payment.
Trata-se de um sistema que permite que o pagamento de impostos ocorra no momento da efetivação da operação de venda, sem passar pelo caixa do negócio.
Atualmente, cada um dos tributos são pagos pelo empreendedor no mês seguinte à operação de venda. Com a novidade, a empresa receberá somente o valor líquido da venda, já com o desconto dos impostos, que será antecipado aos cofres públicos.
3. Acabar com os impostos em cascata
Outra mudança importante da Reforma Tributária é a ampliação do sistema de compensação tributária por meio de créditos fiscais.
Com essa medida, os impostos pagos na compra de bens e serviços poderão ser utilizados para abater o valor devido, evitando a tributação sobre tributos anteriores (não cumulatividade) e impactando diretamente o custo final dos produtos e serviços.
Atualmente, algumas transações já permitem essa compensação, porém, com a nova legislação, a regra será aplicada de forma ampla a todas as operações realizadas por empresas que adotam os regimes normais de tributação.
E como a Reforma Tributária poderá impactar o fluxo de caixa da minha empresa?
Agora que você já conhece as três principais mudanças que acontecerão a partir da Reforma Tributária, fica possível explicar os impactos que poderão ocorrer no fluxo de caixa das empresas. Confira, agora:
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Maiores gastos com impostos
Parece estranho, mas substituir cinco impostos por um, não vai custar barato para as empresas no primeiro momento, refletindo no fluxo de caixa delas.
Isso porque haverá um período de transição em que os impostos antigos e os novos coexistirão, já que a implementação da reforma tributária será gradual (com mudanças progressivas até 2033).
A dupla tributação vai ser temporária, mas isso pode aumentar os custos operacionais e exigir ajustes no fluxo de caixa para evitar impactos financeiros negativos.
Além disso, a unificação dos impostos pode alterar a carga tributária para alguns setores, exigindo ajustes nos preços. E as empresas precisarão acompanhar de perto essas mudanças para não comprometer sua margem de lucro.
Por fim, a transição para o imposto único (IVA) exigirá atualização dos sistemas contábeis e adequação dos processos administrativos, o que também pode gerar investimentos adicionais.
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Menos dinheiro entrando no caixa por conta do split payment
Com a implementação do split payment, os tributos serão descontados automaticamente no momento da transação, reduzindo o valor líquido recebido pela empresa.
Isso pode comprometer o capital de giro, especialmente no curto prazo. Afinal, muitas empresas, sobretudo as pequenas e médias, costumam utilizar o dinheiro dos impostos recebidos durante as vendas, para o pagamento de outras obrigações (salários, fornecedores, etc).
Essa é uma possibilidade hoje (antes da Reforma entrar em vigor) porque o pagamento dos tributos devidos é realizado pela empresa sempre no mês seguinte ao que ocorreu a operação de venda, de acordo com o regulamento atual de cada tributo e regime de tributação.
Ou seja, o desconto direto deste valor no momento da venda reduz, na prática, os valores que circulam na mão da empresa ao longo do mês.
Para lidar com a novidade, será preciso planejamento, além de renegociar prazos de pagamento com fornecedores, revisitar preços aplicados e achar formas de garantir um caixa maior com o faturamento.
Menor competitividade caso a empresa não gere créditos tributários
A não cumulatividade é um ponto positivo da Reforma Tributária. Hoje uma empresa que revende produtos paga impostos duas vezes: quando compra as peças de um fornecedor e, depois, quando realiza a venda.
Com o crédito tributário, é possível usar os impostos que já foram pagos na compra para abater o imposto que precisa pagar sobre a venda (isso evita que seja pago imposto sobre imposto).
Por mais que torne a tributação mais justa, pode impactar negativamente as empresas que não concederem créditos tributários. É o caso das que atuam sob o regime do Simples Nacional.
A ausência dessa possibilidade, pode prejudicar a competitividade das pequenas empresas e exigir que elas revejam o regime em que estão inscritas, já que a depender do contratante, ele pode preferir comprar de empresas que geram crédito tributário.
Dicas para as empresas se adaptarem durante o período de transição
É recomendável que as pequenas e médias empresas tomem as seguintes atitudes:
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Prepare-se com antecedência
Acompanhe ativamente as discussões legislativas e adote estratégias de adaptação antecipadas. Deixar a preparação para o último momento pode prejudicar o fluxo de caixa, a competitividade e até as relações com fornecedores e clientes.
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Ajuste gradualmente os preços de produtos e serviços
A nova carga tributária pode exigir que empresas ajustem seus preços. Mudanças repentinas podem afetar negativamente o relacionamento com clientes e fornecedores.
Por isso, é recomendável analisar o impacto da reforma e implementar ajustes de forma gradual, mantendo as relações comerciais sólidas e duradouras.
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Entenda os novos encargos tributários
A falta de conhecimento sobre os novos tributos pode gerar desafios de gestão.
Com a introdução de impostos como o IVA e o “Imposto do Pecado”, é fundamental estudar essas novas regras para evitar surpresas e garantir conformidade.
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Avalie o regime tributário da sua empresa
Para empresas que desejam acumular créditos tributários, a escolha de mudar para regimes como Lucro Presumido ou Lucro Real pode ser vantajosa, porém traz maior complexidade fiscal e demanda controle rigoroso.
Já aquelas que permanecem no Simples Nacional e recolhem o IVA isoladamente podem enfrentar aumentos na carga tributária final. Avaliar cuidadosamente qual regime se alinha às metas da empresa é fundamental.
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Busque apoio especializado
A transição para o novo sistema pode ser facilitada por profissionais especializados. Com planejamento e conhecimento, quem empreende pode superar desafios e conquistar uma adaptação mais eficiente.
Agora você já sabe qual a relação entre Reforma Tributária e fluxo de caixa. Aproveite para entender melhor as mudanças e o que já está em andamento na Reforma Tributária 2025. Até a próxima!